Beleza Imperfeita

Takuro Kuwata é um artista japonês que faz objetos utilitários a partir de técnicas tradicionais japonesas. Suas criações partem de formas naturais, mas são extremamente contemporâneas. Juntando a tradição e a modernidade, seus objetos são também muito provocantes. E celebram a beleza da imperfeição.

Faz pouco tempo que conheci o trabalho dele, mas posso dizer que fiquei muito apaixonada. 

Li uma entrevista dele em que diz:

'Uma escultura pode sair do forno deformada, numa forma diferente de quando entrou. Eu gosto dessa parte transformadora do processo'.

Não é lindo?

Penso que isso diz muito sobre a gente. Sobre a gente conseguir apreciar as nossas transformações, os nossos processos. Em cada experiência que vivemos, saímos diferentes do que éramos. E isso constrói o que somos. A nossa identidade. O nosso jeito de ser. 

Somos pessoas em construção, estamos aprendendo a ser, na medida que vamos vivenciando coisas, nos relacionando,  lendo, viajando, descobrindo, sofrendo... tudo vai nos acrescentando.

Isso também tem muito a ver com o trabalho que faço, tanto no design como no branding. Construir produtos e construir marcas tem sim pontos em comum, demorei pra descobrir isso. As duas coisas acontecem a partir de processos, desse transformar, de um conhecer. Preciso ir fundo pra conhecer os materiais que escolho trabalhar e preciso ir fundo pra conhecer uma marca e poder ajudar na sua construção. E nas duas coisas, além de conhecer e descobrir, é preciso aceitar. As imperfeições. E encontrar nessa imperfeição a beleza. Porque é nesse imperfeito que estão as singularidades. As diferenças. O que faz uma objeto único. Que é o que faz pessoas e marcas serem únicas também.

Os materiais que o artista usa, a cerâmica e a porcelana, são muito vulneráveis também. Respondem de acordo com o ambiente onde estão inseridos, o que também relaciono ao que nós somos e à forma como nos comportamos. Reconhecer que somos ambíguos, imperfeitos, diferentes.  E únicos. Como objetos e marcas são também. E aceitar e valorizar isso, vendo beleza no que a gente se transforma a cada dia.