Colecionismo

Desde março deste ano colecionamos um novo produto aqui em casa: máscaras de proteção.

Nos primeiros dias de pandemia, ao sair de casa, improvisei com uma bandana amarrada no rosto. Meus filhos riram de mim. E não deu muito certo. No meio da fruteira, desamarrou e caiu no chão. 

Aí, compramos as primeiras. De tecido, laváveis, em cores diferentes. Aqui em casa somos em cinco. Pelo menos podemos sair de casa nesses dias que ficaremos de quarentena mais seguros, pensei.

 

Os dias foram passando, e logo percebi que precisávamos mais. Tinha que sair de casa e a máscara ainda não estava seca. Tinha esquecido uma pendurada no cabide sem lavar. Novas encomendas. 

Às vezes, um elástico arrebenta e é difícil consertar. Mais compras. E assim, aos poucos, já estamos com uma coleção.

Novas cores, para combinar com a roupa. 

Novos modelos, tentando encontrar algum mais confortável. Sigo buscando. 

Além de não conseguir respirar direito, acabo não enxergando muito bem. Sou míope, e quando saio

de óculos, as lentes ficam embaçadas. Não consigo olhar direito para baixo, atrapalhada.

E o elástico, às vezes, aperta muito. Outros modelos, no meio do supermercado, soltam da orelha. E as mãos, que podem estar contaminadas, têm que dar um jeito de recolocar no lugar. Nervoso!

Às vezes penso, ai, posso passar por alguém que conheço e não reconhecer. Também porque mal olho pro lado, pego o que preciso e saio correndo... 

Outras, ao me olhar no espelho, sinto tristeza... eu que costumo sorrir para as pessoas tentando ser mais agradável e simpática,  agora sorrio e ninguém mais vê o meu sorriso. E quase não consigo me reconhecer. Falta mais da metade do meu rosto.

Mas ao chegar em casa, a hora do alívio: retirar a máscara e jogar longe. Liberdade! 

Até ter que recolher, para lavar.  E quando chove, que demoram dias para secar? Também não podem ir na secadora de roupas, que destrói todos os elásticos. Exigem cuidados!

E assim seguimos, na busca por mais modelos, aumentando a nossa coleção. Fazendo de conta que logo poderemos guardar, ou expor todas numa caixinha, como recordação de um tempo tão difícil. Que, tomara, seja logo!